A propósito de um texto, A Sílvia e eles, e esta foto, aparecidos no Público, a 13 de Junho de 2021, da autoria de Carmen Garcia.
Ao ler este texto, surgiu-me a seguinte dúvida: como posso ter a certeza de que não estou a ter um delírio quando penso numa coisa qualquer? Sim, porque a convicção que eu sinto não difere muito da que Sílvia sente. Eu até uso muitas vezes a palavra “eles”, quando penso e falo daquilo que me parecem faltas de respeito, ou até mesmo conspirações, contra as pessoas sem poder!
Mas, e se partilhasse o que penso com outras pessoas, e tivesse a confirmação da maior parte delas de que estava a pensar e a sentir corretamente? Mesmo isso não me daria segurança quase nenhuma: há muitos exemplos, da história recente ou da mais antiga, de alucinações e de delírios coletivos que são até, nalguns casos, particularmente assassinos.
Como diz a autora do artigo, "A fronteira que delimita a nossa saúde mental é frágil". E eu acrescento: nada me garante, nem agora nem nunca, que eu não a tenha já atravessado. E que nem me tenha dado conta disso.
Bom, que lições posso tirar destas reflexões? Que não sejam totalmente desesperadas, já agora? Apenas umas poucas, embora provisórias e cautelosas: por um lado, procurarmos usar sempre de equanimidade e de compaixão ao encarar os outros; por outro, assumirmos uma postura bem mais humilde, quando temos a tentação de nos sobrevalorizarmos a nós próprios e à nossa suposta saúde mental por comparação com as outras pessoas. Quando não conseguirmos isto, percebermos que é o medo do outro, talvez nem tão diferente assim de nós (se calhar, o medo surge também por esta mesma razão, precisamente), que nos está a impedir de ter uma atitude mais racional e mais humana.
É pouco, não nos descansa, mas deixa-nos o sentimento de que estamos talvez a fazer a coisa certa. Porque, pelo menos, não estamos a acrescentar mais sofrimento às pessoas e ao mundo.
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