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Mostrando postagens de julho, 2018

Indignação proposicional

A indignação proposicional resulta de sermos testemunhas de uma malfeitoria, mas sem um malfeitor específico ou definido por detrás. É um tipo de indignação que coloca sobre a nossa sociedade um dilema de contornos por vezes terríveis. A ausência de um alvo concreto para esta raiva é particularmente sentida por nós, levando-nos a uma busca frenética e, a maior parte das vezes, não muito refletida, de um culpado, de um responsável. Assim, a nossa necessidade premente de um culpado, que alivie a nossa angústia e o nosso anseio de lutar contra um inimigo de carne e osso, torna fácil a algum Poder sem escrúpulos fazer-nos acreditar num culpado qualquer. E nós colaboramos quando desligamos o filtro da razão. Por exemplo, indignamo-nos contra a miséria e é, então, fácil levarem-nos a acreditar que quem causou essa miséria foram e são os emigrantes ou os ciganos ou os negros ou os judeus, por mais fantasiosa que seja esta ligação.

Cidades-estado de ontem, nacionalismos de hoje

« O fator geográfico será, pois, quando muito, uma das causas a apontar [para a « eclosão do sistema » da polis ou cidade-estado]. Outra, que já tem sido indicada com mais razão, é que a insegurança posterior à chamada invasão dórica e a falta de um poder central forte que defendesse os homens os levou a unir-se em pequenos territórios. » Leio estas palavras de Maria Helena da Rocha Pereira no seu livro Estudos de História da Cultura Clássica – I Volume – Cultura Grega , 2012, 11ª ed., Fundação Calouste Gulbenkian, p. 171. E imediatamente me vem ao espírito a atual situação política da Europa. Veja-se um raciocínio dentro da linha citada acima: Os Europeus, sentindo-se inseguros com a globalização e com as consequências do colapso financeiro de 2008 não tiveram um poder central forte que os defendesse. Aqui a ênfase está na palavra “defendesse”, não na frase "poder central forte", porque isto eles tiveram. Só que foi um poder usado para impor uma austeridade violenta, s