Pular para o conteúdo principal

Indignação proposicional

A indignação proposicional resulta de sermos testemunhas de uma malfeitoria, mas sem um malfeitor específico ou definido por detrás. É um tipo de indignação que coloca sobre a nossa sociedade um dilema de contornos por vezes terríveis.

A ausência de um alvo concreto para esta raiva é particularmente sentida por nós, levando-nos a uma busca frenética e, a maior parte das vezes, não muito refletida, de um culpado, de um responsável.

Assim, a nossa necessidade premente de um culpado, que alivie a nossa angústia e o nosso anseio de lutar contra um inimigo de carne e osso, torna fácil a algum Poder sem escrúpulos fazer-nos acreditar num culpado qualquer. E nós colaboramos quando desligamos o filtro da razão.

Por exemplo, indignamo-nos contra a miséria e é, então, fácil levarem-nos a acreditar que quem causou essa miséria foram e são os emigrantes ou os ciganos ou os negros ou os judeus, por mais fantasiosa que seja esta ligação.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Elogio da auto depreciação

Parece estranho alguém depreciar-se. Em privado, todos temos essa experiência. Em público, é menos comum alguém realizá-la. Eu não sou diferente dos demais, mas às vezes desvalorizo-me embora sob a máscara de uma certa superioridade desdenhosa de quem não precisa de elogios, nem dos próprios nem dos alheios. Não aqui. O que pretendo neste microensaio é apenas esclarecer os motivos que me levam a fazê-lo em público, sem uma ordem hierárquica de importância. O principal e óbvio, que não é um verdadeiro motivo mas mais uma constatação, é que me deprecio para dar razão aos que me depreciam. Como sei que me depreciam? É simples, vendo como não me ligam absolutamente nada quando estou com eles. Se é assim, então porque me dou ao trabalho de lhes dar razão? Em primeiro lugar, o que me leva a fazê-lo, com determinação no tom e ênfase no conteúdo, é não os deixar ter o prazer de me contrariarem e, ainda por cima, de me provarem, ironicamente e com facilidade excessiva, que eu po

Ser um exemplo para os outros?

  Ah, a vida é demasiado grande e eu sou demasiado pequeno para isso. No entanto, como horizonte, talvez não seja de descartar. Principalmente, se restringirmos o âmbito de aplicação. Por exemplo, sempre procurei, como professor e apenas como professor, ser um exemplo para os meus alunos. Mas, claro, porque sou imperfeito, não sei se fui capaz. Lembro-me de um episódio que, pela sua simplicidade, se tornou numa das poucas vezes em que o consegui. Mas quase por um acaso. Ia de autocarro para a escola, quando ainda havia um vendedor de bilhetes em cada um. Ao aproximar-me do meu destino, apercebi-me que o vendedor não ia chegar ao meu lugar e considerei a hipótese de poder sair sem pagar. Mas tive receio de poder haver algum aluno a ver-me, pelo que me dirigi ao vendedor e comprei o bilhete, após o que logo a seguir saí do autocarro. Ainda estava a orientar-me para me dirigir para escola, quando oiço atrás de mim uma voz de um aluno: - Então, professor, não queria pagar, hem? Pude respon

Ser humano

Para sermos, como os animais são, basta-nos a ação. Para nos tornarmos seres humanos, além da ação, precisamos de uma consciência que nos leve a reconhecermo-nos nos outros. Mas, a fim de nos aproximarmos da sabedoria, é absolutamente necessário acrescentarmos a tudo isto o conhecimento e a reflexão.