Pular para o conteúdo principal

Postagens

Ser um exemplo para os outros?

  Ah, a vida é demasiado grande e eu sou demasiado pequeno para isso. No entanto, como horizonte, talvez não seja de descartar. Principalmente, se restringirmos o âmbito de aplicação. Por exemplo, sempre procurei, como professor e apenas como professor, ser um exemplo para os meus alunos. Mas, claro, porque sou imperfeito, não sei se fui capaz. Lembro-me de um episódio que, pela sua simplicidade, se tornou numa das poucas vezes em que o consegui. Mas quase por um acaso. Ia de autocarro para a escola, quando ainda havia um vendedor de bilhetes em cada um. Ao aproximar-me do meu destino, apercebi-me que o vendedor não ia chegar ao meu lugar e considerei a hipótese de poder sair sem pagar. Mas tive receio de poder haver algum aluno a ver-me, pelo que me dirigi ao vendedor e comprei o bilhete, após o que logo a seguir saí do autocarro. Ainda estava a orientar-me para me dirigir para escola, quando oiço atrás de mim uma voz de um aluno: - Então, professor, não queria pagar, hem? Pude respon
Postagens recentes

Que certezas posso ter acerca da minha própria saúde mental?

A propósito de um texto,  A Sílvia e eles , e esta foto, aparecidos no Público, a 13 de Junho de 2021, da autoria de Carmen Garcia. Ao ler este texto, surgiu-me a seguinte dúvida: como posso ter a certeza de que não estou a ter um delírio quando penso numa coisa qualquer? Sim, porque a convicção que eu sinto não difere muito da que Sílvia sente. Eu até uso muitas vezes a palavra “eles”, quando penso e falo daquilo que me parecem faltas de respeito, ou até mesmo conspirações, contra as pessoas sem poder! Mas, e se partilhasse o que penso com outras pessoas, e tivesse a confirmação da maior parte delas de que estava a pensar e a sentir corretamente? Mesmo isso não me daria segurança quase nenhuma: há muitos exemplos, da história recente ou da mais antiga, de alucinações e de delírios coletivos que são até, nalguns casos, particularmente assassinos.  Como diz a autora do artigo, "A fronteira que delimita a nossa saúde mental é frágil". E eu acrescento: nada me garante, nem agora

Ser humano

Para sermos, como os animais são, basta-nos a ação. Para nos tornarmos seres humanos, além da ação, precisamos de uma consciência que nos leve a reconhecermo-nos nos outros. Mas, a fim de nos aproximarmos da sabedoria, é absolutamente necessário acrescentarmos a tudo isto o conhecimento e a reflexão.

Para quê escrever

Penso mais claramente quando escrevo, mas, principalmente, explico-me melhor. Claro, há várias formas de nos explicarmos e muitas podem ser estéreis ou, pura e simplesmente, ter um alcance reduzido. No entanto, quando, não a explicação, mas o processo de explicar é bom, sinto que estou a destrancar algumas portas pelo menos da minha liberdade. Acrescente-se a isso que, algumas vezes, ao explicar-me melhor, acabo a compreender mais profundamente os outros. E, desse modo, acho que os ajudo a compreenderem-se melhor. Por isso, escrever pode também ser uma das variegadas faces da compaixão em ação.

Tipos de esperança

Há sempre, pelo menos, dois tipos de esperança. A que caracteriza a atitude daquele que espera, impotente e paralisado (se por culpa sua ou não, isso é outra questão, embora eu ache que não) que as coisas de alguma maneira possam melhorar. E aquela que representa uma força, um estímulo à ação capaz de regenerar o status quo , por parte de quem não se deixa iludir pelo poder e acredita que é possível ajudar a melhorar o mundo. Há outras mais doentias, mais cobardes, mas dessas não quero falar aqui.

Quando os pobres votam em quem os vai explorar

 Como entender a tendência dos pobres para votarem nos ricos que vão fazer piorar ainda mais as suas vidas? A síndrome do cão a quem nunca os donos permitem abrigar-se na casa que ele defende com risco da própria vida, ficando sempre a dormir lá fora? Vejamos, há quatro maneiras de o estado arrecadar dinheiro para investir no país: taxar os ricos (incluindo grandes empresas e corporações), cortar nos apoios aos mais pobres, vender tudo o que tem aos que oferecerem mais (aos mais ricos, portanto) e especular. Mais uma vez: havendo alternativas, porque é que as pessoas votam naqueles que optam publicamente por cortar os apoios que recebem? Para mim, isto é um mistério. Às vezes, gostava de estar na cabeça de uma pessoa destas, mas só por no máximo uma hora; mais do que isso e acho que sufocaria. Para perceber. Apenas.