Ah, a vida é demasiado grande e eu sou demasiado pequeno para isso. No entanto, como horizonte, talvez não seja de descartar. Principalmente, se restringirmos o âmbito de aplicação. Por exemplo, sempre procurei, como professor e apenas como professor, ser um exemplo para os meus alunos. Mas, claro, porque sou imperfeito, não sei se fui capaz. Lembro-me de um episódio que, pela sua simplicidade, se tornou numa das poucas vezes em que o consegui. Mas quase por um acaso. Ia de autocarro para a escola, quando ainda havia um vendedor de bilhetes em cada um. Ao aproximar-me do meu destino, apercebi-me que o vendedor não ia chegar ao meu lugar e considerei a hipótese de poder sair sem pagar. Mas tive receio de poder haver algum aluno a ver-me, pelo que me dirigi ao vendedor e comprei o bilhete, após o que logo a seguir saí do autocarro. Ainda estava a orientar-me para me dirigir para escola, quando oiço atrás de mim uma voz de um aluno: - Então, professor, não queria pagar, hem? Pude respon
A propósito de um texto, A Sílvia e eles , e esta foto, aparecidos no Público, a 13 de Junho de 2021, da autoria de Carmen Garcia. Ao ler este texto, surgiu-me a seguinte dúvida: como posso ter a certeza de que não estou a ter um delírio quando penso numa coisa qualquer? Sim, porque a convicção que eu sinto não difere muito da que Sílvia sente. Eu até uso muitas vezes a palavra “eles”, quando penso e falo daquilo que me parecem faltas de respeito, ou até mesmo conspirações, contra as pessoas sem poder! Mas, e se partilhasse o que penso com outras pessoas, e tivesse a confirmação da maior parte delas de que estava a pensar e a sentir corretamente? Mesmo isso não me daria segurança quase nenhuma: há muitos exemplos, da história recente ou da mais antiga, de alucinações e de delírios coletivos que são até, nalguns casos, particularmente assassinos. Como diz a autora do artigo, "A fronteira que delimita a nossa saúde mental é frágil". E eu acrescento: nada me garante, nem agora