Escrever é tentar compreender o mundo e os outros.
Escreve-se num movimento duplo: afastando e incorporando. Às
vezes, triplo: e esquecendo (porque compreender antecede o saber mas não é o
mesmo que saber).
Quanto mais claro para nós for o que escrevermos, mais avançados estamos no nosso trabalho de compreender.
Já ler é lidar com a tristeza.
Parece uma frase construída apenas para obter um efeito
fácil e banal – então aqueles que, felizes ou pelo menos alegres, também são
leitores? Existirão?, pergunto eu. Anotemos que ler não é o mesmo que ser leitor. Ler,
todos lemos. Mas vou admitir
que existem.
A minha conjetura é que esses leitores contentes e
satisfeitos têm, como todos nós, as suas zonas de sombra. Não me refiro,
evidentemente, à sombra expansiva que serve para nos refugiarmos e nos refrescarmos
do sol insuportável; mas, sim, àquela que, pelo contrário, é bem mais oculta e opressiva.
Assim, talvez para todos nós, felizes ou infelizes, ler seja encontrar o
lugar onde a tristeza de viver pode fechar os olhos e sonhar.
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